Precisamos falar sobre a crise climática!

Chegou a hora de reconhecer a interligação entre saúde mental e a crise climática em nossas estratégias políticas. Evidências apontam que a crise ambiental está afetando a saúde mental das pessoas ao redor do mundo todo, mas principalmente em países de baixa e média renda, os quais são mais afetados pela crise e recebem menos investimentos em prevenção tanto ao combate climático quanto na área da saúde.

Em vista de, infelizmente, os desastres climáticos estarem se tornando cada vez mais frequentes, faz-se necessário também um enfoque na educação, prevenção e promoção da saúde mental de crianças e jovens para que possam criar resiliência frente às questões climáticas que enfrentarão durante suas vidas e, assim, prevenir o aumento de transtornos mentais decorrentes das mudanças climáticas.

Um estudo que acaba de ser publicado na revista científica The Lancet Planetary Health, envolvendo mais de 10 mil jovens de 18 a 29 anos, mostrou que mais da metade dos participantes relatam sentimentos de tristeza, ansiedade, raiva, impotência e culpa devido às mudanças climáticas. Dados como esse revelam a necessidade de investimentos na saúde mental desta parcela da população, o que também é estratégico para a economia e pode gerar um retorno significativo de até US$ 23,6 para cada dólar investido, enquanto a falta de ação pode custar cerca de US$ 110 trilhões globais até 2050.

Incidentes como as terríveis enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul nos últimos meses também deixaram claro a necessidade urgente de implementar ações de prevenção, promoção e pósvenção em saúde mental não apenas dos jovens, mas de toda a população, que se viu completamente desprevenida para enfrentar tal cenário de desastre ambiental. A PL 1897/2024, que busca instituir a Política Nacional de Resiliência Psicossocial em resposta a desastres ambientais, foi criada com este intuito e está em tramitação na Câmara Legislativa.

Nós, do Vertentes, também apelamos ao G20 – que em 2024 tem o Brasil em sua presidência – para que incorpore a questão da saúde mental como parte fundamental da agenda de combate à crise climática. Esta é uma demanda global fundamental e, neste ano, temos a chance de estabelecer oficialmente o tema da saúde mental como uma prioridade para garantir os direitos humanos e promover o desenvolvimento sustentável.

Além disso, é essencial promover a conscientização da população sobre dados científicos que vêm sendo produzidos e que relacionam a saúde mental a mudanças climáticas, entendendo como fatores ambientais como poluição do ar, desmatamento e eventos climáticos extremos podem impactar a saúde mental. Com ações coordenadas e investimentos intersetoriais adequados, poderemos enfrentar a crise climática e cuidar da saúde mental de todos, garantindo um futuro mais sustentável.

Fontes:

Ações de Advocacy: Mudanças Climáticas e Saúde Mental – Global Mental Health Action Network

Lau et al. Emotional responses and psychological health among young people amid climate change, Fukushima’s radioactive water release, and wars in Ukraine and the Middle East, and the mediating roles of media exposure and nature connectedness: a cross-national analysis. The Lancet Planetary Health. Junho 2024. DOI: [https://doi.org/10.1016/S2542-5196(24)00097-4]

Adolescents in a changing world: the case for urgent investment – World Health Organization

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